domingo, 21 de janeiro de 2007

Espero Por Ti na Calha da Matéria

No estertor da morte, algo que confidendio às estrelas pretas de uma noite sem luz e sem sabor. Queria eu ter escutado outra coisa que não a palavra truncada desses imponentes corvos do rio sujo. A nossa morte. Luto pelo cumprimento de um sentido de existência de ligações compridas e sentidas no fundo de um coração anémico de faldas misteriosas e complacentes. Calculo que tudo mude e nada permaneça como sempre foi, no espírito soturno de uma página em branco, no escuro de uma mente colada aos dogmas e serviços de uma realidade moribunda.

Parte de mim já teria um nome, não fosse ser escuro e possante como o fogo esventrado de um amanhã canhestro e duro. Sempre e sempre só. Tu. E eu. Nós dois. Como um. No escuro, nada se pode nomear outra vez. Pois seria tão fácil se nada mudasse e tudo se alterasse sem, no fundo, nada mudar. Nunca seremos monstros ambos, de carne plácida e cheia de putrefacção. Numa colher de negro fel, colhido dos ventres de longos vermes nojentos de uma terra abaulada e entretecida por sentimentos curvos. Sem existência, sem ser o sentido da permanência sem cor.

O que vejo não é real. Organizados os planos e todas as sabotagens insípidas de rotas passadas no fogo dos antepassados e cruzadas com ventres bélicos, junto ao céu informe, somos apenas marcas do passado subnutrido de outrora. Serias talvez a nota de um nome que não se apaga na pureza cristalina de algo que nunca existiu. Nem nos sonhos dos poetas. Encontro lutadores dos sentidos em cada canto da memória apodrecida de um beijo saliente. Num certo momento, sem existência e sem pobreza. E tudo será como teria de ser. Se fosse.

Porém, não é. Arde sem pesar na memória distendida de um vapor cataclísmico de entradas desfiadas e bajuladas de poder branco. Tudo o que passa, fica. Em que tudo passa e morre sem poder. Numa mistura que se perde desde a infância de um momento sonhado pela existência fragmentária de um folhetim caduco. Etrusco. Não busco. Faço algum sentido nesta pobre existência de vida que não se cria nem se apaga? Oh, se eu pudesse sentir o teu cheiro nauseabundo, que emana da forças ocultas do acto a que tu chamas vida. Truncada em planos q escorregam sem se forçar a dobrar. Nada mais resta desse mundo de vísceras compostas e de chamamentos ocultos, como se de penas se tratassem.

Espero por ti na calha da matéria pútrida que surge quando a paleta de cores se esgota. É um dia que nunca há-de vir, mas pouco importa. Se importar ou emportar algo que seja, algo mais que um pensamento, uma palavra, uma ideia feita de pequenos monstros comezinhos, será fácil deitar abaixo essa ilusão de nados-mortos entumescidos. Insurge-se contra o destino de vapores fétidos, desaparecendo na combustão espontânea de uma noite como esta. Será para sempre. Nunca mais.

Amo o sabor das palavras caladas. Nunca serei púbico. E, no entanto, faço-o por gosto.

2 comentários:

BC disse...

E porque o anabolismo de fonemas azedos, cifra-se pelo constante estribar da precariedade do afecto, eu firmo uma acanhado encómio doce.

Jacaré Voador disse...

Tiraste-me as palavras da boca!